AIDS 2008; 22:1829-1839
De acordo com um estudo reportado na 12a edição de Setembro da revista AIDS, um programa da PrEP dirigido a 25% dos gays e outros homens que têm sexo com homens em Nova Iorque, e que estão em maior risco de contrair infecção pelo VIH, poderá potencialmente prevenir entre 4% a 23% das novas infecções, que se prevê que venham a ocorrer nos próximos 5 anos. Mais de metade destas infecções seria prevenida em homens que não estariam a tomar a PrEP, apenas devido a reduzida prevalência geral da infecção pelo VIH. O custo foi estimado 31.970 dólares, por ano de qualidade vida ajustados para cada vida salva.
A profilaxia pré-exposição (PrEP) é um potencial método de prevenção antes de uma possível exposição ao VIH utilizando medicamentos anti-retrovirais, para reduzir o risco de infecção. Uma abordagem que está a ser considerada é o uso diário, continuado, de tal profilaxia para as pessoas com frequentes exposições de alto risco.
Até que os estudos clínicos (actualmente em curso) forneçam respostas, ficam por responder as questões relativas à eficácia, inclusive as vantagens em termos de custos, dos programas PrEP. Um estudo de modelos matemáticos apresentado na 16a Conferência Internacional sobre SIDA demonstrou que a PrEP seria eficaz em termos de custo, desde que se provasse uma eficácia superior a 50%.
No mesmo estudo, um outro grupo de investigadores usaram um modelo matemático para simular os possíveis efeitos de um programa de distribuição de cinco anos da PrEP entre homens gays e outros homens que têm sexo com homens (HSH) em Nova Iorque e cuja actividade sexual os põe em risco de infecção pelo VIH. Os objectivos pretendiam predizer o número de infecções pelo VIH que poderiam ser prevenidas e a eficácia em termos de custo do programa, em comparação com as práticas de prevenção actuais.
Pressupostos chave
O modelo era baseado nos dados epidemiológicos publicados para Nova Iorque e assumia um programa PrEP dirigido aos HSH “em risco mais elevado”, 30% da população total dos HSH. O preço foi fixado em 31 dólares por dia, uma média dos preços por grosso dos medicamentos FTC/ tenofovir (Truvada®), os medicamentos que são considerados actualmente como os melhores candidatos para a PrEP nos E.U.A. Para ter em consideração incertezas nas estimativas, a vários parâmetros chave foram atribuídos valores diferentes: taxa de adesão, 33%, 50% ou 95%; percentagem de HSH em risco elevado alcançados pelo programa (população abrangida), 2,5% (abrangidos 1.500 HSH em risco elevado) ou 25% (abrangidos 15.000) e eficácia da PrEP, 0%, 30%, 50% ou 70%. O modo como a eficácia foi relacionada com os outros parâmetros (adesão e níveis de exposição ao VIH) também foi calculado em diferentes modos.
Os resultados das estimativas possíveis e diferentes deram um total de 36 cenários hipotéticos. Além disso, em cada um destes 36 cenários, variaram-se cerca de 200 vezes os factores epidemiológicos (incluindo o número dos novos parceiros sexuais e a probabilidade da transmissão do VIH). Ao todo, foram feitas 7200 simulações, cada uma com uma configuração diferente dos parâmetros.
Resultados
Com base nas actuais taxas de incidência prevê-se, nos próximos cinco anos, a ocorrência de 19.510 novas infecções pelo VIH entre os HSH em Nova Iorque.
Ao tornar a PrEP acessível a 25% dos HSH em maior risco, a simulação prevê que podem ser prevenidas entre 4% (780) e 23% (4510) de infecções pelo VIH. Mais de metade das infecções prevenidas seriam entre os que não acederam directamente à PrEP, apenas devido à redução da prevalência do VIH na comunidade resultante do programa PrEP.
No cenário baseado em casos fizeram-se as seguintes suposições: 25% dos HSH em risco elevado (15.000) seriam abrangidos; 50% dos homens no programa teriam uma boa adesão à profilaxia; a PrEP seria eficaz com 50% de participantes aderindo 100% à medicação e 0% nos outros casos. Nestas condições, 1710 novas infecções pelo VIH (8,7% das esperadas) seriam prevenidas (90% do intervalo de confiança [IC], 306 até 2947). Das infecções prevenidas setecentas eram devidas directamente ao uso da PrEP e 1010 casos secundários eram devidos à redução da prevalência. O aumento do custo seria de 31.970 dolares por ano de qualidade de vida ajustados (QALY) para cada vida poupada.
Variando os parâmetros, os modelos apresentaram no pior cenário benefícios zero (nenhuma nova infecção prevenida) e no melhor dos cenários 23% de benefício, ou 4510 casos de não transmissão da infecção (90% IC, 3144 a 6129). Em todos os cenários supostos, a PrEP era eficaz em termos de custo em 75% dos casos, tendo como um limiar de 50.000 dólares por QALY salvo.
A percentagem de HSH incluídos no programa era a variável mais crítica. As reduções estimadas de 4% a 23% eram observadas com taxas de inclusão de 25% dos HSH de risco elevado; quando apenas 2,5% eram incluídos, não eram prevenidas novas infecções em número suficiente para justificar a intervenção.
O relatório conclui que, embora esteja sujeito a muitas variáveis ainda desconhecidas, o programa de “quimioprofilaxia do VIH [PrEP] entre homens expostos a risco elevado de transmissão da infecção pelo VIH, numa grande cidade dos E.U.A, pode prevenir um número significativo de infecções e ser eficaz em termo de custos…num largo espectro…de variáveis.” Os autores acreditam que estas descobertas “ darão um forte impulso aos ensaios clínicos de quimioprofilaxia em curso, bem como à investigação sobre um programa potencial de implementação”.
Referências:
Desai K et al. Modelling the impact of HIV chemoprophylaxis strategies among men who have sex with men in the United States: HIV infections prevented and cost-effectiveness. AIDS 2008; 22:1829-1839.
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