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26 de agosto de 2008

Propagação da sida poderá ser evitada

SARA GAMITO

26.08.08



Investigação.
Cada vez mais estudos parecem confirmar que o tratamento do VIH também previne novas infecções. Para os cientistas, desde que o paciente esteja medicado, a transmissão por via sexual é quase impossível

Propagação da sida poderá ser evitada
Raramente uma conferência sobre a SIDA capta a nossa atenção. A esperança de uma cura ou vacina para a pandemia que já matou mais de 25 milhões de pessoas parece esmorecer. E com razão. Há dois anos, num encontro realizado em Toronto, no Canadá, investigadores de renome anunciaram que a vacina para a sida que estavam a testar tinha falhado. A suposta vacina estava aliás tão distante do pretendido, que só acelerava a doença. No entanto, há poucas semanas, na XVII Conferência Internacional da sida, voltou a ser reavivada a possibilidade de diminuir drasticamente o número de infectados, através de um método que estava mesmo à frente dos nossos olhos.

Os anti-retrovirais, medicamentos usados no tratamento da sida, podem contribuir para uma redução drástica da transmissão do VIH por via sexual. Esta teoria, sustentada por Myron Cohen, professor na universidade norte-americana da Carolina de Norte, debruça-se sobre o facto de praticamente não existirem vírus no sangue e nos fluidos genitais de infectados com VIH, desde que estejam devidamente medicados. Diminuem, assim, as possibilidades de transmissão do vírus durante as relações sexuais.

Por agora, os resultados de Cohen baseiam-se apenas em testes realizado em animais. Contudo, o professor já deu início a um estudo que envolve 1750 casais serodiscordantes, ou seja, casais em que um parceiro está infectado e o outro não, de forma a poder comprovar se a adequada administração de anti-retrovirais diminui as probabilidades de transmissão.

Há ainda outros dados e opiniões a suportar a teoria de Cohen. "Ao tratar as pessoas, conseguimos com que não haja vírus circulantes no sangue e na maioria dos casos isso tem um acompanhamento da redução dos vírus nos fluidos genitais. Um doente tratado é um doente em que a probabilidade de transmitir a infecção para outras pessoas é de facto muito baixa", apoia José Vera, chefe de medicina interna do núcleo de estudos do VIH, do hospital de Cascais.

Voltando à conferência do México, Júlio Montaner, do Centro de Excelência do VIH na Colômbia Britânica, no Canadá, demonstrou que o aumento da cobertura de tratamento com anti-retrovirais dos actuais 50% para os 75% levaria a uma queda de novas infecções da ordem dos 30%. "Já sabíamos que a expansão do tratamento podia ajudar a reduzir o número de novos infectados, mas ficámos surpreendidos com o número real de infecções que podem ser evitadas", declarou Montaner.

Assim sendo, este seria um óptimo argumento para alargar o tratamento a muitos milhares de pessoas, já que vários países ainda se mostravam relutantes em financiar estes medicamentos, que atingem preços exorbitantes.

Face ao entusiasmo que preencheu a cimeira, Myron Cohen alertou que, embora "existam várias razões para pensar que o tratamento actua como prevenção", também se teve ter em consideração a ocorrência de blips, (subidas transitórias da carga viral com episódios de libertação viral no aparelho genital), doenças sexualmente transmissíveis não diagnosticadas, bem como o espaço de tempo entre o aumento de carga viral por aparecimento de resistências, que se segue à falência da combinação anti-retroviral, e a próxima consulta médica, e a possibilidade de uma superinfecção por vírus resistentes à medicação.|

DN Online

18 de agosto de 2008

Pedida acção universal no tratamento da sida

Prevenção e terapia são foco da conferência internacional sobre a doença
2008-08-03
EDUARDA FERREIRA *

A Cidade do México recebe agora a reunião máxima sobre sida. Ali afluem cientistas, activistas e decisores. O Mundo não está a deter a epidemia. A prevenção continua a melhor arma contra o vírus, dizem especialistas.

Não há ainda vacina contra o vírus da imuno-deficiência humana (VIH), mas os tratamentos estão a mostrar-se cada vez mais eficazes. Contudo, estes não chegam ainda à maioria dos 33 milhões de infectados em todo o Mundo e a doença continua a propagar-se, tornando seropositivos mais 2,7 milhões em cada ano. Esta realidade inspira o lema da XVII Conferência Internacional sobre a sida (AIDS 2008), que a partir de hoje e por cinco dias reúne na Cidade do México. "Acção Universal, Já!" é o apelo lançado.

O que os organizadores da conferência pretendem pôr em foco é a necessidade de uma resposta mais célere da comunidade internacional face a um vírus que já ceifou a vida a 26 milhões de pessoas desde que foi identificado, há 25 anos. É certo que falharam até agora as tentativas para encontrar uma vacina, mas as terapias múltiplas estão a resultar num aumento muito significativo da esperança de vida das pessoas infectadas, quase se podendo falar numa doença crónica, como assinalava o último relatório da ONUSIDA publicado na passada semana. Esta agência em que participam as Nações Unidas precisaria de cerca de 30 mil milhões de euros por ano para que, em 2010, prevenção e tratamento estivessem assegurados universalmente. No entanto, os financiamentos do no ano passado nem chegaram a um quarto daquela verba. Sem reforço financeiro, que teria de ser secundado pelos governos, torna-se difícil estacar o passo da epidemia, considera Pedro Cahn, um director da Sociedade Internacional para a Sida, a organização que assume a coordenação da conferência. "É difícil combater a epidemia se não falarmos de educação sexual", afirma, para indicar que a prevenção requer acções múltiplas, tal como a natureza das terapias. Sobre estas, o chefe do Serviço de Infecciologia do Hospital Egas Moniz, de Lisboa, considera que "nunca se avançou tanto e em tão pouco tempo no tratamento de uma doença vírica". Kamal Mansinho dá como termo de comparação as vacinas da poliomielite e do sarampo, que demoraram 40 anos a alcançar.

Abordagem social

A conferência no México reúne 22 mil pessoas, desde especialistas sobre sida a líderes mundiais que se destacaram na luta contra a doença. Também associações estão ali presentes, marcando na agenda, entre outros pontos, o problema das crianças seropositivas ou tornadas órfãs pela epidemia. Ali serão expostos também os problemas do pessoal de saúde, que luta contra todo o tipo de carências, sobretudo nos países em desenvolvimento.

Ontem, em véspera da reunião, a capital mexicana acolheu a Primeira Marcha Internacional contra a Estigmatização, Discriminação e Homofobia. Os activistas reclamaram mais educação para a tolerância e a despenalização universal da homosexualidade. O relatório da ONUSIDA e o departamento de controlo de doenças dos Estados Unidos chamaram, entretanto, a atenção para o facto de a epidemia neste país ter a sua expressão mais elevada entre os homosexuais e bissexuais (28 mil face aos 17 mil novos casos em heterossexuais em cada ano) devido a comportamentos de risco assumidos porque a doença já tem alguns tratamentos.

Jornal de Notícias.pt

6 de agosto de 2008

Tratamento para a sida pode deixar de ser grátis

Saúde. Plano da ONU ameaçado pelas regras de propriedade

As regras de propriedade intelectual, que restringem a produção de medicamentos genéricos, podem ameaçar o compromisso das Nações Unidas de garantir o acesso gratuito a tratamentos contra a sida a partir de 2010, alertou ontem um especialista em Economia da Saúde.

Na 17.ª Conferência Mundial sobre a Doença, que decorre esta semana no México, Benjamin Coriat, especialista da agência francesa de investigação sobre sida, citado pela Lusa, explicou que os acordos relativos à propriedade intelectual, assinados no âmbito da Organização Mundial do Comércio, tornam obrigatória a existência de patentes para os novos produtos de saúde, proibindo a produção local, exportação e importação de cópias desses mesmos produtos, o que pode aplicar-se aos genéricos fabricados pelos países em vias desenvolvimento, que os disponibilizam a preços reduzidos.

A norma aplica-se exclusivamente aos novos fármacos, mas pode ter consequências muito negativas no combate à doença, uma vez que se recomenda que, em cada ano, cerca de 10% dos infectados passem para o chamado "tratamento de segunda linha", uma terapia mais eficaz, mas também bastante mais cara, baseada em medicamentos mais recentes.

No entanto, advertiu o especialista, pedir aos doentes dos países mais pobres para pagarem uma parte do custo dos fármacos não pode constituir uma alternativa, uma vez que isso poderia conduzir a um significativo abandono dos tratamentos.

Tendo em conta a progressiva passagem para os tratamentos de segunda linha, os investigadores estimam que os custos associados ao tratamento da sida aumentem cerca de 250% até 2010, o que poderá tornar insuficiente a verba de dez mil milhões de dólares que as Nações Unidas dedicaram este ano ao combate à pandemia. | Lusa

Diário de Notícias.pt

3 de agosto de 2008

Sida: epidemia estabilizou e o mundo desinteressou-se

03.08.2008 - 08h17 Exclusivo PÚBLICO/Libération

Mas onde estão os políticos? Quando começa, hoje, a Conferência Mundial sobre a Sida, eles serão os grandes ausentes. Só uma mão-cheia de chefes de Estado decidiu deslocar-se ao México. O mesmo acontece com os ministros da Saúde. Terá mudado a ordem das prioridades mundiais?

"Com a saída de Kofi Annan da ONU, mas também com a saída de Jacques Chirac ou com o afastamento cada vez mais marcado de Nelson Mandela, há um verdadeiro problema de liderança mundial na luta contra a sida", nota Michel Kazatchkine, director do Fundo Mundial de Luta contra a Sida. "Haverá uma passagem de testemunho, mas ainda não se percebe para quem. Já havia sinais deste problema: em 2006, no congresso mundial de Toronto, o primeiro-ministro canadiano não esteve presente."

A conferência do México - onde estarão mais de 20 mil clínicos, investigadores, doentes e associações - será a oportunidade para verificar a realidade dos compromissos e o peso das promessas. Uma espécie de barómetro do estado da mobilização mundial.

A dinâmica lançada vai continuar ou ser ampliada? Ou o mundo vai contentar-se com as promessas de ontem e virar-se para outras urgências planetárias? Há um número que resume os desafios futuros: em 2008, enquanto duas pessoas começam a receber tratamento, há outras cinco que são contaminadas. Em resumo, a corrida para quebrar a cadeia de transmissão permanece urgente. Quanto mais demorarmos, mais a contaminação progride.

Concorrência

Na véspera da abertura desta conferência, há novas inquietações. Último sinal de alerta, seguramente o mais perturbante: a reunião do G8 de Hokkaido (Japão), do início de Julho. Pela primeira vez em anos, a cimeira quase não referiu a sida. Serviços mínimos. Nenhuma nova medida ou financiamento anunciados. Todos os observadores notaram que os temas em debate foram outros. Novas urgências planetárias impuseram-se, como o aquecimento global, mas também a crise alimentar mundial, com os motins da fome.

Como resistir a esta "concorrência"? "O silêncio do G8 foi pesado", diz Eric Fleutelot, responsável das acções internacionais do grupo Ensemble Contra le Sida. "É certo que saíram do G8 270 milhões de euros e em 2005 só tinham saído 250. Mas os 270 não são os 300 que estavam previstos."

Michel Kazatchkine corrige: "A saúde e as doenças infecciosas continuaram a ser importantes no G8. Para o Fundo Mundial, temos compromissos de 38 mil milhões de euros para cinco anos. Em simultâneo, mantém-

-se o objectivo de alcançar o acesso universal ao tratamento em 2010. É verdade que aparecem outras prioridades. O Japão enfrenta dificuldades orçamentais consideráveis. Quanto aos Estados Unidos, mantêm os seus compromissos, mas também estão num período difícil".

Mas Eric Fleutelot insiste nas queixas: "Diga-se o que se disser, os financiamentos futuros não estão garantidos". Multiplicam-se outros sinais preocupantes.

Vacinas

No mês passado, o laboratório farmacêutico suíço Roche decidiu suspender a investigação de novos medicamentos contra a sida "por falta de resultados nos estudos em curso". Os EUA também decidiram pôr fim ao projecto de ensaios clínicos em grande escala para uma vacina anti-sida, na sequência de dúvidas sobre a sua eficácia. Uma decisão tanto mais inquietante quando acontece um ano depois do fim dos ensaios no laboratório americano Merck, que eram tidos como dos mais prometedores. Hoje, a busca de uma vacina parou.

Foram realizados esforços consideráveis no combate à sida: em sete anos, a ajuda aos países em desenvolvimento multiplicou-se por seis. Quem teria imaginado, no congresso mundial de Barcelona, em 2002, quando o Fundo Mundial acabara de ser criado, que seis anos mais tarde perto de três milhões de pacientes estariam a ser tratados?

Acrescenta Michel Kazatchkine: "Podemos considerar que estamos longe de cobrir as necessidades. Em teoria, faltam 25 mil milhões de dólares por ano, numa altura em que nos aproximamos dos 11 mil milhões. Mas é preciso analisar a procura, a capacidade dos países em desenvolvimento de receberem esta ajuda. Antes, a procura era fraca porque estes países não tinham condições para absorver toda a ajuda no tratamento da sida. A mudança é espectacular: no México, vamos anunciar que, pela primeira vez, a procura estará próxima da oferta".

Orçamento

Outro sinal de optimismo: o voto, no mês passado, no Congresso americano, de 50 mil milhões de dólares, para financiar nos próximos anos programas contra a sida. A soma é impressionante. Mas, notam os cépticos, não se trata de um orçamento: o Congresso só deu autorização à Administração para gastar este valor.

Kazatchkine conclui que "há sempre razões para estarmos inquietos". "Mas hoje diria o que vou dizer no México, parabéns! Nunca estivemos tão bem. Há dez anos os tratamentos eram 10 mil dólares. Hoje custam 82 dólares por ano e por paciente."

PÚBLICO.PT

Se correu alguma situação de risco

Quanto mais cedo for detectada a infecção mais eficaz será o tratamento e mais anos de vida terá.