9 de julho de 2008

Mudar Mentalidades/Derrubar Preconceitos

SIDA
MEDO E PRECONCEITO

Preconceito é uma atitude discriminatória que baseia conhecimentos surgidos em determinado momento como se revelassem verdades sobre pessoas ou lugares determinados. Costuma indicar desconhecimento pejorativo de alguém ao que lhe é diferente.

O preconceito nasceu das primeiras tentativas de explicação da epidemia, de início conhecida como peste gay. Alastrou-se pela imposição da noção de grupos de risco, cujo contacto deveria ser evitado: os haitianos, os homossexuais e logo os bissexuais, os que vivem da prostituição. A "democratização" da doença, com o alto nível de contágio pelo consumo de drogas injectáveis e o partilhar de seringas, ou mesmo a constatação da falta de políticas de controlo do sangue desde o começo da epidemia, em nível mundial, elevou o medo a fantásticas alturas.
Um bom índice das violações de direitos produzidas por esse medo pode ser aferido da consulta aos Tribunais. A jurisprudência regista casos de exigência de testes sorológicos para HIV para admissão a empregados, de discriminação pela condição de portador do vírus HIV, seja na despedida de empregados, na aquisição de habitação própria, seja no afastamento de crianças da escola, entre outros.”

Vinte anos depois...
A ideia que a maioria dos portugueses ainda têm na memória acerca da doença, é a que foi produzida pelas imagens que a televisão transmitiu há mais de 10 anos, de pessoas esqueléticas, cobertas de chagas, deitadas numa cama de hospital, esperando que a morte as levasse, ou do filme Filadelphia, conotando, em ambos os casos, a doença como uma coisa maldita, produto dos comportamentos imorais e marginais dos gays e toxicodependentes, enfim a doença dos pecadores.

Essa imagem nunca foi alterada, apesar da realidade ter mudado. Desde há 15 anos e com a toma dos retrovirais somos muitos os que passamos da fase de sida para a fase de seropositivos, e cada vez mais menos pessoas passam por essa fase mais complicada.

Continuamos a ser os proscritos da sociedade apesar de sermos pessoas normais com uma vida normal, apesar de contribuirmos para o desenvolvimento do país, apesar de fazermos os descontos como os demais portugueses, apesar de votarmos, apesar de vivermos sem apoios do estado, apesar de querermos ser felizes.
Quando alguém me ouve dizer que sou seropositiva, a resposta é sempre a mesma " não parece nada que tens sida, quem olha para ti não diz que és seropositiva"…lá está a imagem pré-concebida, o preconceito, o juízo de valores.

Mediante este estado de coisas, é necessário mudar as mentalidades e desfazer este preconceito, porque todos estão em condições de "pecar".
Actualmente deixaram de haver grupos de riscos e sim comportamentos de risco. A doença não está longe. Ela aproxima-se. Ela está perto de todos. Ela atinge, por transmissão vertical, de mãe para filho, atinge a esposa cujo marido teve uma relação sexual ocasional sem preservativo, e que em nenhum dos casos houve comportamentos de risco...
É preciso desmistificá-la, é tempo de derrubar esta imagem errada e negativa que existe na cabeça dos portugueses, para se começar o "trabalho" de acabar com a discriminação veladamente instituída, de se acabar com o estigma desta doença, de podermos ser livres em toda a acessão da palavra.
É preciso deixarmos de ser invisíveis, sem medos.
O trabalho tem de começar por nós, seropositivos de 1ª geração, será a nossa herança.


"O vírus HIV, nesse esconde-esconde dramático no sistema imunológico, determina a perda da imunidade e provoca consequências no corpo social muito além das infecções oportunistas e/ou neoplasias no corpo físico do paciente".

“A doença mistura racismo, sexo e sangue, só pode ser uma doença revolucionária”

Parar é Morrer

primeiro post do blog "Tempo de Janela"
publicado por mié



Este foi o primeiro post publicado por mim no meu blog "kronikando" inserido no Portal ex.SIDACÇÃO- www.sidaccao.com.

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Se correu alguma situação de risco

Quanto mais cedo for detectada a infecção mais eficaz será o tratamento e mais anos de vida terá.