29 de novembro de 2008

O Futuro Perdido de África

Por Ana Machado
Estudos prevêem a condenação da economia daquele continente

África tem 70 por cento dos casos de sida mundiais e mais de dez milhões de órfãos

No orfanato de Nyumbani, no Quénia, as ordens são para combater a epidemia de sida custe o que custar: "Estou farto de fazer funerais", exclamou o padre jesuíta Angelo d'Agostini, norte-americano, fundador de Nyumbani, no dia em que tomou a iniciativa de pedir autorização para comprar medicamentos genéricos de combate à sida à farmacêutica indiana Cipla, enfrentando o poder das grandes farmacêuticas multinacionais e da lei. Por 75 contos por ano d'Agostini asseguraria o cocktail de drogas necessário a cada criança com sida. O preço dos tratamentos vendidos pela Roche, Merk, GlaxoSmithKline ou Boheringer Ingelheim pode chegar aos 1200 contos por pessoa anualmente (preço médio em Portugal). D'Agostini questiona-se: "Será que a sida é a verdadeira causa do futuro perdido de África?"

Os órfãos da sida em África já ultrapassaram os dez milhões. São crianças sem futuro, privadas de tudo, vulneráveis, sem esperança ou qualquer oportunidade, a quem os pais mortos muitas vezes deixam uma única herança: a doença mortal que lhes corre nas veias. É esta a geração perdida de África, um continente em que vive dez por cento da população mundial e ao qual pertence a gorda fatia de 70 por cento dos casos mundiais de sida, isto é, 24 dos 34 milhões de casos declarados em todo o mundo. Só no Quénia a esperança média de vida baixou de 59 anos para 30 nos últimos dez anos. Segundo as Nações Unidas, todos os dias morrem 5500 africanos de sida.

A sida em África afecta as crianças de duas maneiras: a doença mata os pais, deixando-os órfãos, desamparados, à mercê da esmola de outras famílias e das instituições de acolhimento - nos países da África subsaariana mais afectados pelo flagelo da sida (Quénia, Zimbabwe, Botswana, Malawi, Namíbia) o número de órfãos quadruplicou entre 1994 e 1997. Depois afecta-os directamente, infectando-os, só por nascerem ou serem amamentados por mães que já carregam a doença. Em cada 30 crianças africanas nascidas de mães contaminadas estima-se que dez delas nasçam já com o vírus, quatro serão contaminadas pela amamentação e a grande maioria não chegará a festejar o quinto aniversário - 90 por cento das crianças com sida são africanas.

O flagelo de sida é como uma bola de neve em África, que arrasta também a economia de países já de si empobrecidos. Quando a sida ceifa a vida de milhões de africanos na sua idade mais produtiva e deixa os órfãos a engrossar os encargos de famílias alheias que os aceitam, o fardo de despesas torna-se insuportável. E há ainda os insuportáveis encargos com a saúde. Um estudo da Divisão de Investigação em Saúde, Economia e Sida, da Universidade de Natal, em África do Sul, onde uma em cada dez pessoas tem sida, afirma que 50 por cento das camas dos principais hospitais do país estão ocupadas com doentes de sida. O impacto deste quadro nas despesas de saúde é catastrófico, apesar deste ser o país com melhores infra-estruturas para tentar lidar com a epidemia. E todos os dias são registados mais 1700 casos.

Estudos defendem que a África terá em 2010 menos 71 milhões de habitantes do que deveria, devido essencialmente à sida. E o número de órfãos deixados para trás será de 40 milhões. Angelo d'Agostini conta a história de uma mãe que chegou ao orfanato de Nyumbani desesperada a oferecer trabalho a troco de tratamento para a sua filha bebé. Tinham sido despejadas de casa e muitos dos hospitais já não recebem crianças em estado avançado da doença. Não se podem dar ao luxo de gastar dinheiro em doentes condenados, dizem. Com 150 órfãos a seu cargo d'Agostini espera pela autorização para a compra de genéricos: "Estamos próximo da noção de genocídio", defende. A patente dos medicamentos fornecidos pelas multinacionais para a terapia contra a sida está protegida pela lei do Quénia até 2010.

Fonte: Público

Um comentário:

Anônimo disse...

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Se correu alguma situação de risco

Quanto mais cedo for detectada a infecção mais eficaz será o tratamento e mais anos de vida terá.