13 de novembro de 2008

Moçambique: Os dois lados da moeda da SIDA

Aqui ( mais um grito de indignação coragem e dignidade).

"Meus vizinhos me diziam que eu tinha os dias contados"



Photo: André Catueira/PlusNews

CHIMOIO, Meu nome é Gina Victor, tenho 30 anos. Nasci na zona rural do distrito de Mutarara, na província de Tete, na região central de Moçambique. Tenho dois filhos, um de nove e outro de sete anos. Vivo com o meu marido, no bairro Josina Machel, na cidade de Chimoio, em Manica, para onde me mudei enquanto criança.

Em 2003, meu marido adoeceu bastante e várias vezes ficou internado no hospital provincial de Chimoio devido a malária e diarréias. Em 2004, ele foi aconselhado por um tio que trabalhava numa ATS (Atendimento e Testagem de Saúde) para fazer um teste de HIV. O resultado voltou positivo.

A partir desse momento, tive que cuidar dele e lidei com uma discriminação enorme, porque os familiares dele me culpavam por ter trazido a doença para dentro de casa.

Nessa altura eu não me sentia mal. Tinha ligeiras febres, que transformavam-se em dor de cabeça e calafrios, resultantes de malária. Mas como eu havia perdido dois bebés sem explicação e o médico me aconselhou a fazer o teste, que também voltou positivo.

Fiquei perplexa, porque imaginava a SIDA como uma doença de pessoas de má vida e meu marido foi meu único parceiro. Não sabia como havia sido infectada, mas sempre desconfiei da atitude do meu marido em relação a várias mulheres.

Com o diagnóstico, pensei que era o fim da minha vida. Nem todos me consolaram – muita gente me falou coisas que desencorajavam. Fiquei muito doente e o meu marido me abandonou por algum tempo.

Comecei a tomar antiretrovirais e meus irmãos é que cuidaram de mim até eu me recuperar da desarticulação e fraqueza, pois os comprimidos eram muito fortes. Cheguei a pesar entre 25 a 35 quilos, mas agora peso 70 quilos. Tomo dois comprimidos por dia, às seis e às 18 horas.

Discriminação

Quando a minha saúde estava debilitada eu sofria muita discriminação onde moro. Alguns vizinhos chegaram a me dizer que eu tinha os dias contados, por isso não precisava me preocupar com a vida.

Muita gente passava próximo do meu quintal e me chamava de seropositiva, quando eu recebia comida doada pela Associação de Pessoas Vivendo com HIV, a Shinguirirai (Coragem, em português), onde eu trabalho actualmente como secretária.

Os meus vizinhos proibiam que os meus filhos brincassem nas suas casas e quando eu usava as camisetes da associação com mensagens de sensibilização sobre o HIV, algumas pessoas na estrada evitavam que eu encostasse neles.

Esse tipo de comportamento das pessoas do meu bairro mostra que eles são ignorantes ou não percebem a epidemia. As pessoas infelizmente continuam a discriminar em Moçambique, algumas delas sem saber por que o fazem.

Agora a minha vida voltou ao normal. Como seropositiva passei para uma nova vida, porque mudei de rotina da vida, agora mais regrada e sã.

Também ajudo outras pessoas a perceberem o que é o HIV/SIDA. Falo para eles sobre a importância de se prevenir, de fazer o teste e sobre o tratamento com ARVs.

Novembro 2008 (PlusNews)

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Quanto mais cedo for detectada a infecção mais eficaz será o tratamento e mais anos de vida terá.