PATRÍCIA JESUS

Genética.As conquistas de Roma podem ajudar a explicar a distribuição de um gene que aumenta a resistência ao VIH. A teoria é avançada por investigadores franceses que salientam as coincidências entre a variação da frequência do gene na Europa e as fronteiras do Império
Gene 'protector' é menos frequente no Sul da Europa
O que nos deixaram os romanos? Os aquedutos, as estradas, o alfabeto e, aparentemente, uma menor resistência ao vírus da sida (VIH). Segundo um estudo de investigadores franceses, os habitantes dos territórios ocupados pelos romanos são mais vulneráveis ao VIH.
A explicação é genética. As pessoas com uma variante do gene CCR5, que dificulta a entrada do vírus nas células, não só apresentam uma maior resistência à infecção como, depois de infectadas, demoram mais tempo a desenvolver a doença.
Geralmente, apenas pessoas da Europa e do Oeste da Àsia têm esta variante (CCR5-delta32), que, de acordo com o artigo publicado na New Scientist, é muito menos frequente nos países do Sul da Europa.
Os cientistas acreditam que para explicar esta variação temos de recuar umas boas centenas de anos, já que a pandemia, identificada no início dos anos 80, é muito recente para influenciar a distribuição do gene.
A equipa de Eric Faure, da Universidade da Provença, em França, analisou cerca de 19 mil amostras de ADN de toda a Europa e avança a hipótese da variação do gene reflectir a alteração de fronteiras do Império Romano. Isto porque a frequência do CCR5-delta32 atinge os 15% no Norte do continente, varia entre os 8 e 12% nos territórios fronteira do Império (como Alemanha e Inglaterra), e é inferior a 6% nas colónias que permaneceram mais tempo sob jugo romano, (como Grécia ou Espanha).
As duas teorias alternativas - a possibilidade de epidemias como a peste bubónica ou a varicela terem dizimado a população com este gene, e a hipótese da variante ter origem na Escandinávia e ter sido espalhada pelos vikings - esbarram na falta de coincidência geográfica.
Por outro lado, Faure não acredita que esta diferença possa ser atribuída à miscigenação com os povos indígenas, já que a história sugere que "a transferência de material genético era extremamente baixa", explicou à NewScientist. Além disso, os soldados romanos vinham de todas as parte do império e não apenas de Roma.
Por isso, os cientistas consideram mais provável que os romanos tenham introduzido uma doença que afectou sobretudo as pessoas com a variante CCR5-delta32, tornando-a mais rara nos territórios ocupados, que hoje pertencem a países como Portugal, Espanha e França.
DN Online
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